Sobre esta Campanha
A organizadora optou por selecionar de uma lista robusta a maioria das palestrantes
do sexo feminino, como alternativa de evento em que a cultura ancestral, é
comumente representada por caciques e, geralmente homens. A ideia era que cada
etnia estivesse representando um bioma diferente.
Assim, foram sugeridos pelas próprias palestrantes, eixos temáticos mais abrangentes
nos dois momentos e não uma linha temática.
O livro surge como forma de registro histórico, pois este momento vivido no congresso
é também um momento em que os povos originários estão enfrentando todo tipo de
cerceamento: de direitos, perda de territórios, invasões por mineradoras, pandemia da
covid-19, incêndios por intolerâncias religiosas, ataques inclusive do Governo Federal
em forma de projetos e de leis absurdas.
Estas falas no evento virtual, foram concebidas por nós como um som, um chamado
para reunir e resistir na força do som das palavras proferidas por essas mulheres e
homens indígenas nesse momento de emergência que todos devem ouvir o chamado
da terra.
Quando um Xamã Tapuia – conhecedor e estudioso da cosmovisão Guarani, educador
e palestrante, autor da literatura indígena – fala sobre resistência e lutas. A terra esta
falando...
Da mesma forma, quando a mulher indígena doutora em antropologia, educadora, e
liderança feminina, pesquisadora e palestrante está falando pelo seu povo, falando da
sua história e também da sua cultura. A terra fala por intermédio dela.
A terra está falando quando um professor cineasta, mestre em linguística, palestrante
ativista traz as imagens do seu povo, da sua sobrevivência e da sua língua. A terra
também fala, através de seus filmes documentários sobre sua cultura.
A terra também fala – por meio da professora que faz pesquisa e documentação de
estudo etno-histórico, mestrado com premiação nacional, indo para seu doutorado em
arqueologia – que pesquisa a história de um povo que, por muito pouco, não foi
dizimado e narra também sobre o legado que sua juventude indígena recebeu dos
anciões e a história do contato com o colonizador, uma experiência que foi drástica!
A Terra fala pela da voz da ativista indígena – professora, mestra em desenvolvimento
sustentável e doutoranda em Antropologia que faz da oralidade sua via de “lutalitura”,
como ela mesma afirma a leitura e literatura construída na luta – usa da linguagem
como um convite ao pensar e refletir a história e os contextos dos acontecimentos
atuais e passados.
A Terra fala por meio da Arte como interação com o sagrado e o segredo, a arte como
expressão dos saberes e de estar no mundo. A Terra fala pelas formas, símbolos,
mantos e cores de uma indígena artista e ativista dos direitos humanos.
Finalmente a terra fala por meio da presença e resistência da líder Guarani, indígena
foi reconhecida Cacique em uma quebra de padrões de escolhas de lideres pelo
masculino, foi a primeira Cacica a ser reconhecida liderança de um povo no Brasil,
também gestora ambiental, mestranda em desenvolvimento sustentável. Ela que
defende a homologação das terras indígenas no Morro dos Cavalos – Palhoça - SC,
lutando contra interesses alheios ao território indígena e contra as perdas de direitos.
As mídias, os livros são ocupados por estas falas poderosas, porque a terra está falando
e como que lembrando quando estas vozes surgiam com o uso do instrumento de
sopro Oboré, usado pelos Tupinambás ancestrais, para reunir o povo para orientação,
um chamado para falar da luta, um chamado do povo para luta ou para a próxima
atividade de vida coletiva, assim que essa metáfora foi sugerida por Kaká Werá.
Precisamos de todos e todas. Ouçam o Oboré.
Este livro nasce pela força da palavra, pelo poder da escuta, pelo fazer ou, mais
especificamente, pelo “chamamento” ou “chamar mentes” com elas dizem.
Convidamos para abrir a escuta sensível e para ouvir as falas, para ler as palavras
eternizadas do nosso livro Oboré quando a terra fala. Venham todos ouvir a terra!
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